Brasil deve se preparar para chegada de superfungo, diz pesquisador da USP

Candida auris já gerou surtos em países da África, da América do Sul e da Ásia, mas ainda não foi registrada no país


Quem quiser prestar um vestibular de medicina no futuro próximo vai ter que estar preparado para pesquisar, tratar e evitar contaminações por superfungos, como são chamados os fungos multirresistentes que foram descobertos recentemente por cientistas sul-americanos.

O continente registrou a primeira morte por causa de uma infecção causada por esse tipo de protozoário em 2018 e, segundo médicos brasileiros, a tendência é que novos registros aconteçam.

O pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), João Nóbrega de Almeida Jr, foi o autor do "anúncio" da morte do indivíduo à comunidade internacional no jornal científico Transplant Infectious Disease.

"Se existe a superbactéria, existe o superfungo também", disse em entrevista à Agência Brasil. De acordo com ele, porém, os superfungos só conseguem atuar sobre organismos com imunidade baixa.

Nesses casos, no entanto, a chance de óbito é muito maior do que uma infecção comum por bactérias. O problema é pior, segundo Nóbrega, porque quase não existe laboratório no Brasil que seja capaz de identificar esse tipo de contaminação.

"Esse fungo não deve ter em grande quantidade no ambiente, como em outros países, mas também porque os nossos laboratórios não são habilitados para fazer o diagnóstico", afirmou.

O indivíduo que morreu não teve o país revelado, mas tinha acabado de sair de uma cirurgia de transplante de medula e contraiu a infecção ainda no hospital. Ele já estava recuperado da operação, mas não resistiu ao superfungo. Acredita-se que a causa da morte tenha sido infecção pelo fungo Candida auris.

O alerta de Nóbrega não é único no Brasil: em março de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um comunicado de risco para o Candida auris após registros de surtos em vários países, como Japão, Coreia do Sul, Índia, Paquistão, África do Sul, Quênia, Kuwait, Israel, Venezuela, Colômbia, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.

Para Nóbrega, o Brasil precisa estar preparado para quando o superfungo chegar aos pacientes daqui. "A gente está se organizando com uma força-tarefa nacional com vários pesquisadores para, quando esse fungo chegar ao país, fazermos o diagnóstico correto", finalizou.