Pinceladas sobre a nobreza cafeeira na 'Terra dos Barões'

Princesa do Norte completa 314 anos de Emancipação Político-Administrativa nesta quarta-feira, 10 de julho


Palacete 10 de Julho, que serviu de residência ao Barão e Baronesa do ItapevaPalacete 10 de Julho, que serviu de residência ao Barão e Baronesa do Itapeva (Foto : Arquivo AgoraVale)Intitulada Princesa do Norte" pelo jornalista e poeta Augusto Emílio Zaluar, Pindamonhangaba completa 314 anos de Emancipação Político-Administrativa nesta quarta-feira (10). Sua história não poderia ser contada sem a presença de um elemento vital na economia que veio a se tornar a mola propulsora de uma sociedade próspera e influente no município, a partir da segunda metade do século XIV.

Nada melhor do que viajar pela linha do tempo desta nobre e laboriosa gente, até chegarmos onde economia e cultura fundiram-se pela força rural que influenciou a sociedade o surgimento de uma nobiliarquia.

Monocultura - Após a sua independência política de Portugal, o Brasil continuava a exercer suas atividades econômicas nos moldes coloniais, onde o comércio estava quase que todo voltado para o mercado escravo e a produção de açúcar.

E foi em virtude dessa prática da monocultura que, partir de 1850, um produto que não tinha concorrência lá fora passou a ser a vedete do mercado brasileiro no exterior, com grande aceitação: era o café. Três províncias brasileiras tiveram destaque, a partir de então, quando a cafeicultura prosperou e fez desenvolver as localidades.

Consumido regularmente pelos árabes, o café começou a ser conhecido e difundido no Ocidente a partir da segunda metade do século XVII. Chegou ao Brasil em 1827, trazido para essas terras por um brasileiro nascido em Belém do Pará: Francisco Melo Palheta. O que ninguém poderia esperar é que o Brasil chegaria a determinar o preço mundial desse produto.

A força do Vale - Em São Paulo, o Vale do Paraíba destacou-se como grande produtor e era de onde saia quantidades inesgotáveis de sacas para o exterior. Essa força econômica fez surgir uma nobiliarquia cafeeira que incentivou e investiu no desenvolvimento das cidades com a beleza de seus casarões de arquitetura nos padrões europeus.

A partir de 1840, com as boas condições de plantio no centro-sul, o produto se desenvolveu celeremente com grandes fazendas de plantio no Oeste Paulista, Alta Sorocabana, Alta Paulista, Paraná, Rio de Janeiro. Ao contrário da cultura da cana-de-açúcar, a cultura cafeeira não despendia um investimento muito pesado,

A fidalguia - Famílias abastadas foram surgindo em torno das regiões cafeeiras e toda uma sociedade vivia de acordo com a economia gerada pela produção do grão, a partir de então denominado "ouro negro". Com esse novo aspecto econômico gerado, em meio ao ambiente dos fidalgos proprietários de fazendas nasceria uma nobiliarquia. Surgia o baronato.

Grande parte desses nobres senhores recebeu seus títulos após 1808, quando da chegada da Família Imperial. Enquanto o Banco do Brasil vivia um estado de quase falência, foram esses ricos senhores que pagavam os gastos da coroa no século XVIII, e assim, ganhavam a notoriedade com o título, o que lhes garantia um grande poder político.

No Vale do Paraíba Paulista e do Estado do Rio de Janeiro, essa nobiliarquia ficou mais evidente em municípios como Bananal, São José do Barreiro, Lorena, Guaratinguetá, Pindamonhangaba e Taubaté no Vale paulista e no lado fluminense, Resende, Valença, Vassouras, Barra Mansa, Barra do Piraí, foram as que mais se destacaram.

Após 1830, o café começou a marcar sua presença na região valeparaibana. Na década de 1850, Taubaté passaria a figurar como o segundo maior centro produtor de café em todo o país. Lorena teve até um conde, o único do Vale do Paraíba: Joaquim José Moreira Lima, o Conde de Moreira Lima.

Pindamonhangaba Imperial - Duas décadas depois, seria Pindamonhangaba que entrava no rol das cidades imperiais, com o desenvolvimento de uma respeitável nobreza rural. De pobre e insalubre nas primeiras décadas do século XIX, passou a ser chamada "Terra dos Barões", devido ao grande número de titulados que residiam no local.

Parte dessa riqueza ainda pode ser vislumbrada através de palacetes e igrejas na região central da cidade. Com a abolição da escravatura em 1888, teve início a decadência desse fulgor, e dos velhos casarões, fazendas e palacetes.

Apagava-se pouco a pouco o cenário onde brilhou a fidalguia valeparaibana cujo requinte de suas carruagens, cortejos e sarais chegou a rivalizar-se com a corte no Rio de Janeiro, com suas mulheres da mais alta classe e requinte.

Dos tempos áureos do ciclo do café ficaram em pé alguns velhos edifícios remanescentes, principalmente em fazendas de Bananal e no centro de Pindamonhangaba. Hoje, são parte das histórias passadas de geração a geração. Assim como diz o hino da cidade Princesa do Norte: "Tradições que nos orgulham, contadas por nossos pais".