Sleeping Giants usa ativismo virtual contra fake news

Há duas semanas no ar, a iniciativa conseguiu a retirada de anúncios de empresas como Dell, O Boticário e Banco do Brasil de sites que propagam a desinformação


Com o intuito de desmonetizar sites que disseminam informações falsas, discursos de ódio e que, geralmente, são ligados à extrema-direita, a página Sleeping Giants brasileira foi criada há duas semanas. A iniciativa é inspirada no modelo dos EUA, que foi organizado pelo publicitário Matt Rivitz em 2016, durante as campanhas presidenciais norte-americanas, quando o termo fake news começou a circular e foi popularizado.

Em entrevista ao jornal El País, o criador do perfil no Twitter afirma que a ideia de criar o projeto no Brasil surgiu depois da publicação de uma reportagem do mesmo portal, que trazia o perfil de Rivitz e explicava como ele minou a sustentação econômica de um dos maiores propagadores de fake news dos EUA.  Por questões de segurança, o estudante prefere não se identificar, já que Rivitz já afirmou ter recebido ameaças de morte quando sua identidade foi revelada.

O modelo que a página usa para diminuir o recebimento de dinheiro dos sites é simples: alerta as empresas de que suas campanhas estão aparecendo e financiando páginas que publicam informações pouco confiáveis, tiradas de contexto e falsas, de forma a difundir o discurso de ódio. O perfil se define como um movimento que pretende "impedir que sites preconceituosos ou de fake news monetizem através da publicidade".

"Sempre pensei em formas de combater notícias falsas, mas nunca havia encontrado uma eficiente, até que descobri essa maneira simples de aplicar usando a desmonetização", afirma o administrador da versão brasileira, que, em apenas duas semanas, ganhou mais de 300 mil seguidores no Twitter e 100 mil no Instagram.

Em pouco tempo, a iniciativa conseguiu a retirada das publicidades de empresas como Dell, Avon, O Boticário e Banco do Brasil do site Jornal da Cidade Online, que, de acordo com a agência de fact check Aos Fatos, foi o que mais espalhou notícias falsas durante as eleições de 2018. Atualmente, a página promove ataques aos governadores que implementaram as quarentenas nos estados como forma de controlar a expansão do coronavírus, além de disseminar dados imprecisos sobre a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da doença.

Como os anúncios são inseridos de forma programática, ou seja, por meio do sistema digital do Google e atribuídos aos sites visitados a partir da preferência e de pesquisas recentes do usuário, o organizador do projeto conta com o reporte e a participação de seus seguidores para alcançar mais empresas. As pessoas que decidirem ajudar podem acessar o Jornal da Cidade Online e tirar um printscreen da tela do notebook, tablet ou celular, de modo a mostrar a propaganda inserida na página. Em seguida, basta criar uma mensagem educada no Twitter, marcando a corporação e o Sleeping Giants.

Além disso, o perfil também pede análises sobre campanhas que visam arrecadar dinheiro para esses sites. Em nota publicada no dia 27 de maio, o perfil do projeto anunciou que conseguiu "uma desmonetização de mais de R$ 340 mil, valor esse que seria captado pelo período de um ano e que foi declinado através da solicitação de análise de campanhas de financiamento coletivo que faziam uso de discurso de ódio e de fake news".