Como as cidades japonesas lucram com as vendas de carros usados ao exterior

Prefeituras como a de Okinawa exportam veículos fora de circulação no Japão para países da África e da Ásia


A prefeitura de Okinawa, no Japão, planeja exportar mais carros usados em 2018, usando unidades retiradas do negócio de aluguel de veículos administrado pela prefeitura para aquecer a economia local e abastecer mercados próximos.. De acordo com a administração local, o número de automóveis registrados para aluguel na cidade atingiu a marca dos 30 mil em 2016 - a maior entre as 47 prefeituras japonesas. No total, cerca de 10 mil carros são exportados por ano pela prefeitura.

Como Okinawa não possui ferrovias, os veículos são os principais meios de transporte para os nativos da ilha de Kyushu, ao sudoeste da principal ilha do país, a de Honshu, onde está a capital Tóquio. Além disso, o negócio de aluguel de automóveis serve para a locomoção de turistas. A prefeitura começou a operar um sistema de monotrilho em 2002, mas o trem cobre apenas uma área limitada, incluindo o aeroporto e o centro da cidade de Naha, no subúrbio.

Com muitos mecânicos se instalando na região, Okinawa tem o potencial de se tornar um centro de manutenção e exportação de veículos. Muitos dos carros usados da região são primeiro colocados em um leilão online organizado pela própria prefeitura e, então, exportados para países da Ásia e da África. Há alguns anos, a América Central e algumas nações sul-americanas, como a Bolívia, também compravam automóveis usados japoneses.

Em uma tentativa de mudar o longo processo das vendas e diminuir os custos, a prefeitura de Okinawa está trabalhando diretamente com o exterior, tirando vantagem da proximidade com as economias asiáticas. Um projeto-piloto de 2016 mostrou que Okinawa exportou 382 carros usados diretamente para sete países, incluindo Sri Lanka, Paquistão e Mianmar, de acordo com a prefeitura.

Alguns dos veículos são transportados em containers aos destinos via Taiwan, na China, embora alguns façam a viagem de barco diretamente aos mercados exteriores dos compradores.

O Sri Lanka é o principal comprador de carros usados japoneses, seguido pelo Quênia. O país africano adquiriu 4,8 mil unidades do Japão em 2016, o que fez com que uma das grandes negociadoras de veículos usados nipônicas abrisse um escritório na capital, Nairobi, em fevereiro deste ano.

"O Japão está a seis horas à frente do Quênia e quando nossos clientes vão comprar um carro via internet, são forçados a postar a oferta e esperar o dia seguinte para ter uma resposta. Com o escritório aqui, nós podemos oferecer facilidades para esses compradores quenianos", afirmou o porta-voz da companhia, Hameed Ramzan, ao jornal queniano Business Africa.

Os negócios de carros usados japoneses também começaram a crescer em países do Oriente Médio e, recentemente, Dubai recebeu a primeira sede de uma negociadora de veículos do Japão. Os preços dos veículos vão variar de US$ 1 mil (R$ 3,5 mil) a US$ 80 mil (R$ 264 mil).

No Paquistão, ao contrário, os negócios com carros usados geraram uma crise política quando o governo decidiu impor restrições à importação de veículos, aumentando os custos envolvidos na transação. Com os protestos de empresários locais, que alegaram que a medida prejudicaria o negócio e, como consequência, a economia paquistanesa, o Estado aceitou retornar às regras anteriores. A Auction House Japan, uma das principais companhias do setor, chegou a parabenizar o governo paquistanês pela iniciativa.

O projeto fiscal japonês também destacou alguns desafios, como as estratégias que Okinawa precisará ter para garantir uma grande quantidade de veículos usados para revenda, já que muitos deles ainda são transferidos para a ilha principal do Japão. A cidade precisa estabelecer facilidades para a manutenção e inspeção dos veículos antes da exportação, recrutando trabalhadores suficientes e melhorando a rentabilidade das vendas desse tipo de produto.

"O porto em Naha não tem espaço para manter muitos veículos para exportação, um problema que também permanece", disse Satoru Motonaga, oficial da divisão econômica asiática (Asian Economic Strategy Division) da prefeitura de Okinawa. Segundo ele, o governo vai seguir facilitando estudos de software e hardware para saber se a exportação de carros usados da cidade traz rendas significativas ao governo local.