Amadurecimento, amizades e o inglês: porque estudantes procuram intercâmbio na Austrália

Jovens brasileiros seguem procurando por escolas e universidades no país oceânico; fluxos do país em direção a Oceania crescem


O paulistano Gabriel da Hora, de 20 anos, passou cinco meses aprendendo inglês em Sydney, durante seu intercâmbio na Austrália, em 2017. Não foi apenas a primeira experiência fora do país como também seu contato inicial com a língua e com a vida fora da casa dos pais. Segundo ele, sair da zona de conforto em São Paulo foi um passo fundamental para seu progresso profissional e humano.

"Tive que aprender a fazer tudo sozinho: ir ao supermercado, cozinhar, lavar a roupa, pagar o aluguel, arrumar a casa. Como essa nunca tinha sido minha rotina, senti dificuldade nos primeiros meses. Foi um período de crescimento nesse sentido. Agora que voltei, consigo perceber o quanto amadureci como pessoa: valorizo mais a família, os amigos, aqueles momentos que a gente abandona porque prefere sair, ficar no computador", diz ele ao Agora Vale.

Um dos destinos preferidos dos brasileiros que vão para o exterior estudar, a Austrália se tornou nos últimos anos um país acolhedor em diversos outros aspectos. Ainda que o foco da viagem seja concluir uma graduação, começar uma pós ou aprender inglês, a experiência de morar em outro continente, interagindo com pessoas de várias partes do mundo e expandindo as possibilidades de carreiras profissionais ou acadêmicas é também fundamental na hora de escolher por uma viagem dessa dimensão.

Entre junho de 2015 e o mesmo mês de 2016, 43,9 mil brasileiros viajaram à Austrália, figurando no grupo das 16 nacionalidades que mais chegaram à nação oceânica no período. Juntos, eles deixaram 300 milhões de dólares australianos durante as viagens. Os números são significativos porque até os anuários de turismo de 2013, o Brasil sequer aparecia nos dados de chegadas do governo australiano.

A jornalista Thaís Yamashi diz que o ano em que passou em Perth, cidade recém-descoberta pelos intercambistas brasileiros, foi o mais frutífero da sua vida no quesito relações sociais. "Tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas e meus amigos foram como uma família. Um sempre ajudava o outro no que precisasse. Estando longe da família, são essas pessoas que ajudam a seguirmos fortes. Essa é talvez uma grande motivação para fazer um intercâmbio desse tipo", avaliou.

A mesma motivação foi dada pelo biólogo Juliano Mendes, que morou cinco anos em Melbourne e, na metrópole australiana, conheceu sua esposa, a fisioterapeuta brasileira Juliana Ikashi -- hoje eles moram em Peruíbe, no litoral paulista. "A Austrália me deu todos os grandes amigos que eu tenho hoje. Estando aqui ou lá, foi o mais importante que eu conquistei naquele período em que eu cheguei sem um tostão, apenas o curso de inglês", comenta.

Para a estudante Bruna Tasato, o que realmente faz a diferença entre a Austrália e outros destinos possíveis no exterior é a possibilidade de trabalho. No país, além dos vistos de trabalho de até 20 horas para os que estão matriculados em cursos com duração de mais de 90 dias, são concedidos "vistos de trabalho pós-estudo" de até dois anos para os que cursam uma pós-graduação. Dessa forma, é possível contar com rendimentos na moeda corrente (dólares australianos) para complementar os gastos necessários para se viver no país durante o período do intercâmbio.

O governo australiano ainda oferece algumas facilidades adicionais em parcerias com as instituições de ensino e as agências que trabalham com intercâmbios, como o serviço de emissão de certificados, que facilita a recepção de estudantes internacionais e os qualifica mais rapidamente para o mercado de trabalho.

"A gente aprende a lidar com vários tipos de situações, praticamos o inglês e, o melhor, ganhamos uma grana para isso. Eu dei sorte de conseguir um trabalho muito bom de vendedora em uma loja de um dos shoppings de Melbourne, mas, se fosse preciso, não me importaria nem um pouco de trabalhar como garçonete, cleaner ou algo do tipo. Precisamos ir com a mente aberta e estar prontos para o que der e vier", finalizou.