Economistas recomendam controle de gastos às famílias

Com perda de poder aquisitivo, população deve manter austeridade durante a crise econômica


Em meio à crise econômica causada pela pandemia de covid-19, a queda de renda dos brasileiros preocupa os economistas. Os números do desemprego no mercado formal (com carteira assinada) e também a desocupação de trabalhadores informais (sem registro) resultou em um forte impacto no poder aquisitivo da população.

Como sobreviver com a diminuição do poder aquisitivo se os efeitos são sentidos na queda do poder aquisitivo e na capacidade de consumo das famílias? O cenário mostra nesse momento um percentual de famílias com dívidas, em atraso ou não, que chegou a 66,6% em abril deste ano - recorde desde janeiro de 2010. As projeções a médio prazo também despertam atenção.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que os brasileiros possam chegar até 8% mais pobres em 2021, na comparação com 2019.

"É um momento muito complicado, as famílias já estavam endividadas. A redução de renda é muito grave porque há pessoas passando necessidade", diz o economista Ronalde Lins. "Quem perdeu o emprego não vai conseguir recuperar em curto prazo, mesmo que aceite salário mais baixo", afirma Newton Marques, também economista.

Na visão de César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, o comprometimento dos orçamentos domésticos e o desemprego se agravam com os riscos à saúde, que exigem reclusão. "A pessoa não tem dinheiro, ainda vai ficar doente? O melhor é cuidar da saúde", afirma, acrescentando que "não se esperava tanto tempo nesse período de isolamento".

Racionalização de gastos - Nenhum economista prescreve receita mágica ou ad hoc (expressão latina cuja tradução literal é "para isto" ou "para esta finalidade") como descreve Bergo. Em meio à recessão econômica, a bula prevê mais austeridade. As famílias precisam de "mais disciplina e racionalização de gastos. É questão de fechar o caixa e direcionar recursos. A despesa tem que estar dentro do orçamento", recomenda.

O presidente do Conselho Regional de Economia frisa, no entanto, que "o momento é de fazer foto, mas enxergar com a luneta. Tem que olhar o futuro. O importante é ganhar tempo. A gente sabe que a pandemia não vai durar para sempre".

Segundo o economista Ronalde Lins também "não existe momento eterno sem dinheiro, sem recurso financeiro." Por ora, ele orienta as famílias a não fazerem novos compromissos, focar no atendimento às necessidades básicas, como alimentação, renegociar dívidas e prolongar pagamento. Abra o jogo: diga não tenho dinheiro".

Lins admite, porém, que a negociação "é difícil" no momento. "Dizer que não vai pagar para quem tem a receber é outro complicador. Uma bola de neve. A não paga B, B não paga C, e assim a economia quebra".

Nesse cenário, de "taxas elevadas e absurdas", o economista Newton Marques espera novas decisões macroeconômicas e que os bancos negociem. "A sociedade tem o direito de exigir medidas concretas. É preciso abrir os cofres. Não tem outra saída em qualquer país do mundo. É momento de guerra", define.

Com informações da Agência Brasil