Compreender o tempo presente é sempre um desafio. Mascarado pelo cotidiano e pelos aspectos factuais que precisam ser vencidos diariamente, o presente se impõe e deixa opaca a contextualização dos nossos atos. Enquanto aguardamos o afastamento temporal, que permitirá aos que virão caracterizar historicamente a nossa sociedade, recorremos à análise de cientistas sociais para compreender o mundo que nos cerca.
Segundo Zygmunt Bauman, estamos vivenciando a época da Modernidade Líquida, sociedade pós-industrial caracterizada pelo consumismo, pela busca do prazer, pela cultura do imediatismo. Tudo isso viabilizado e fomentado pelo fluxo intenso de informações. Nesses tempos marcados pelo excesso de informação - não confundir quantidade de informação com informação de qualidade - precisamos saber classificá-las quanto à relevância e veracidade.
No papel de educadora, estimulo a seguinte reflexão: como articular a Educação, que requer dedicação, empenho, cautela, qualidade e tempo de todos os envolvidos no processo, com esse ambiente da modernidade líquida? Este é o grande desafio dos educadores: fazer uso das infinitas informações disponíveis na internet (que reforçam as características da modernidade líquida) a favor dos processos de ensino e aprendizagem. Os educadores, diante desses fatos, precisam ajudar a moldar e classificar a informação, despertar o pensamento crítico, incentivar as discussões como fonte de aprendizagem, conduzindo o processo de apropriação da informação para gerar conhecimento.
Preparar os estudantes para esse mundo “líquido” requer um currículo dinâmico, flexível, que se modifique com a mesma velocidade da dinâmica da sociedade, afinal, a escola é uma instituição social sujeita a mudanças, adaptações e interações de acordo com o seu tempo, sem que isso descaracterize a sua missão de formar cidadãos. Nosso tempo requer preparar as pessoas para desenvolvimento e criação, e não para a mera execução de tarefas; instrumentalizar os alunos para um olhar crítico e analítico em relação às informações que consomem e produzem; inserir os processos de aprendizagem na dinâmica do cotidiano, e não apenas entre os muros da escola. A escola contemporânea deve derrubar os muros simbólicos que ainda persistem entre academia e outras instâncias da sociedade, manifestas na velha dicotomia academia x mercado. Os muros devem dar lugar às pontes, que estabelecerão os elos entre nosso tempo, líquido, e as premissas da Educação.
Somos menores do que nosso tempo, mas o tempo de agora é nosso. Cabe a nós assumirmos o protagonismo de nossa história e sinalizar os rumos daquele que estão por vir, processo este que, inevitavelmente, é conduzido pela Educação.