Finanças pessoais em equilíbrio


“A parte mais sensível do corpo humano é o bolso.”
(Delfim Netto)

Administrar finanças pessoais pouco difere de gerenciar o caixa de uma empresa ou mesmo de um país. Mudam apenas a proporção e a complexidade. Você precisa analisar dois conjuntos de contas: as receitas e as despesas.

Se você é assalariado, é fácil fechar as contas e saber o quanto comprometeu de sua poupança ou renda futura. Por outro lado, se você é empresário, consultor, profissional liberal, enfim, se exerce qualquer atividade com remuneração variável, talvez esteja diante de um problema, face à eventual sazonalidade de seus ganhos.

O lado das receitas é normalmente meio engessado. O assalariado pode buscar uma elevação de sua renda fazendo horas extras, desde que com a anuência da empresa. Uma alternativa consiste em realizar pequenos jobs ou “bicos”, isto é, trabalhos autônomos para terceiros, a fim de reforçar o caixa.

Já o profissional com remuneração variável, ao mesmo tempo em que não dispõe da segurança proporcionada por um salário no final do mês, tem à sua disposição a possibilidade de, fazendo uso de sua habilidade e criatividade, gerar novos negócios, buscar novos clientes, aumentar suas receitas.

Mas é no campo das despesas que este jogo acontece. E o segredo é relacionar todos os gastos possíveis dividindo-os em categorias conforme ilustrado a seguir:

Grupo da alimentação: supermercado, feira livre ou sacolão, açougue, padaria, restaurantes, lanchonetes, churrascarias, pizzarias, cafés;

Grupo da saúde: assistência médica (convênio ou seguro-saúde), assistência odontológica, médico especialista (psicólogo, terapeuta, fonoaudiólogo etc.), exames e cirurgias, medicamentos, academia de esportes;

Grupo da habitação: prestação da casa ou aluguel, IPTU, seguro residencial, sistema de segurança, condomínio, água, energia elétrica, gás encanado ou de cozinha, telefone fixo, jardineiro, piscineiro, babá, empregada doméstica, móveis e eletrodomésticos, artigos de cama, mesa e banho, manutenção da casa;

Grupo da educação: escola e/ou faculdade (própria e/ou dos filhos), transporte escolar, material didático, aulas particulares, atividades extracurriculares (judô, balé, computação etc.), cursos de idiomas, cursos de extensão, seminários, congressos, palestras, livros;

Grupo da cultura e do lazer: cinema, teatro, museus, bares, shows, clubes, assinatura de jornais e revistas, TV por assinatura, CDs, DVDs, jogos, provedor de acesso à internet, passeios e recreações, festas (aniversários, casamento etc.), viagens (passagens, hotéis, entre outros);

Grupo do transporte: prestação do carro ou aluguel, IPVA, seguro obrigatório, seguro do veículo, combustível, lavagem, multas, transporte coletivo (ônibus, metrô, trem, fretado), táxi, estacionamento pago, pedágio, manutenção do carro;

Grupo das despesas financeiras: tarifas bancárias, juros do cheque especial, juros do cartão de crédito, multas por atraso no pagamento, juros de empréstimos, juros embutidos em financiamentos;

Grupos das despesas diversas: produtos de limpeza, artigos de higiene pessoal, produtos e tratamentos estéticos (salão, cabeleireiro, cosméticos etc.), vestuário, acessórios, telefone celular, pensão alimentícia, mesada, fumo, bebida, apostas em loterias, gorjetas, doações, presentes, animais de estimação;

Grupo da poupança preventiva: previdência privada, seguro-educação, seguro de vida, consórcio, fundo de reserva.

Ainda que algumas contas não tenham sido contempladas na listagem acima, os itens relacionados já são suficientes para demonstrar como nos enganamos na administração de nossas despesas pessoais. Isso acontece porque estamos habituados a considerar apenas aqueles gastos mais próximos e palpáveis, negligenciando os que têm que ser provisionados, ou seja, previstos porque eventualmente ocorrerão. Isso acontece, por exemplo, com medicamentos, multas de trânsito e todo tipo de manutenção.

Assim, diante deste quadro, algumas sugestões mostram-se pertinentes:

1. Monte sua própria planilha de despesas de acordo com sua realidade. Você poderá concluir, por exemplo, não ser este o momento adequado para adquirir um carro ou trocar o modelo atual.

2. Analise quais gastos podem ser eliminados, substituídos ou reduzidos. Sempre com os olhos voltados para sua receita, você descobrirá que certos serviços precisam ser eliminados de sua cesta, talvez reduzindo seu padrão de vida atual. Isso pode simbolizar o cancelamento da TV paga, uma visita a menos por mês a um restaurante ou o uso mais regrado do telefone celular.

3. Evite comprar por impulso ou através de financiamento com juros. Opte por comprar à vista, sempre que possível. Um exercício interessante é aguardar uma semana para adquirir algum novo bem. Após este prazo, pergunte-se com franqueza se ainda precisa daquele objeto.

4. Ataque de frente e sem piedade suas despesas financeiras. Saia do crédito rotativo do cartão de crédito. Cancele-o e busque um juizado de pequenas causas para efetuar o pagamento do saldo devedor sem a incidência atroz de juros que ultrapassam 15% ao mês. Faça o mesmo com seu cheque especial, negociando seu parcelamento com taxas reduzidas.

Em suma, tome as rédeas de sua vida financeira e tenha na disciplina sua maior aliada.