Qual é a dose de assertividade que trata a sua síndrome, mulher maravilha?

por Ana Lívia


Não faz muito tempo fui diagnosticada com síndrome da mulher maravilha. Surpreendida, tomei uma decisão heróica. Resolvi fazer uma promessa assertiva que mudaria o resto da minha vida comunicativa. Sabe aquela promessa super importante, divisora de águas, que dá até frio na barriga só de pensar em cumpri-la? Pois é, eu fiz. Confesso que primeiro procrastinei um pouco porque eu precisava juntar coragem e... adivinha? Eu juntei. Sei lá como, reuni forças das entranhas do meu ser e a minha voz trêmula e fina ecoou, em alto e bom tom (mentira), para o universo (do meu apartamento compacto, e adjacências, localizado em uma das principais e mais movimentadas avenidas da cidade). Resumindo, eu (penso que) bradei, com o pé junto e o peito aberto: ?eu prometo nunca mais dizer sim querendo dizer não...ão...ão...ãooooo!!!!

Nossa, foi épico! Arrepiou aí? Vizinhos saíram na janela para contemplar aquilo que soou quase como uma profecia. Eu cheguei a ouvir aplausos, sinos... vi fogos de artifícios também. Porém, logo percebi o eco de minha voz voltando feito bumerangue e me dando um verdadeiro tapa de realidade na cara. Pasmem, apenas cinco minutos depois de minha declaração histórica, que ficaria marcada pra sempre no livro da minha vida, recebi uma ligação quase filantrópica e, como sempre, não resisti e, de novo, salvei a pátria. Topei atender voluntariamente um parente que necessitava de meus serviços profissionais. Sim, isso quer dizer que, mais uma vez, não cobrei um centavo por aquilo que me capacitei por anos a fio a fazer cada vez melhor e em menos tempo. Não, não me olhem assim. Vamos lá, sem julgamentos. Coitado, é parente e eu finjo preferir sofrer os reveses da vida a magoar alguém da família. Será por isso que eu ouço com frequência: "querida, você é muito boazinha!"?

Nossa, pensa numa criatura irritada ao escutar isso. Que ultraje, iludidos! Eu me recuso a aceitar esse rótulo! Eles não me conhecem. Ah se me vissem em meus monólogos interiores, teriam medo de mim, mal se aproximariam, não ousariam balbuciar algo assim porque definitivamente, caro leitor, eu sou o bicho. Um peixinho de aquário talvez, mas ainda assim um bichinho. Ah ok, tudo bem, eu me rendo. Talvez doses cavalares de assertividade não surtam mesmo efeito em quadros semelhantes aos meus, mas? e se fossem doses homeopáticas? Acredita que sim? Sendo assim, você me acompanha? Muito obrigada. Então, uma dose, pra nós, por favor. Hoje, amanhã e depois...