O menino que quase não sabia falar


O menino que quase não sabia falar


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Com vocês: João! Siiiim, João! Graaaande João - o menino que quase não sabia falar. Pois é, verdade verdadeira. Imaginem vocês que ouvir João falando qualquer coisa era coisa rara. Muitos dos que conheciam João, observavam a sua pele pretinha feito turmalina rica em ferro, os seus olhos castanhos iguais caramelos, os seus dentes alvos como as nuvens, mas mal conheciam a sua voz - o tom, o ritmo, a intensidade? como seriam, hein?

Há quem soubesse do apreço e da facilidade de João pela matemática. Ele era muito bom, gostava muito mesmo. Na escola, quase sempre resolvia as continhas antes de todos os seus colegas, mas quando a professora perguntava algo a ele? Oooops! Argh! Brr! Glup! Xiiii!

As palavras pareciam embaralhar-se em sua boca e nada, absolutamente nada, ele conseguia falar. Os amiguinhos riam tanto de João que na medida em que os risos ecoavam em seus ouvidos, a sua pele mudava de cor.

João era voltado pra dentro e ainda não havia entendido que, com o seu jeitinho todo peculiar de ser, ele poderia interagir, a sua maneira, com as outras pessoas. Na rua onde ele morava, muitas crianças reuniam-se e brincavam, menos uma - ele próprio, que de tanta vergonha não saía de casa.

Um certo dia ele ficou tão incomodado por não conseguir falar e, por isso, não conseguir brincar como gostaria com as outras crianças que decidiu: _ Vou responder a primeira pergunta que me fizerem hoje. Mal sabia João qual seria a próxima oportunidade e quem faria a ele alguma questão.

Trinta minutos depois de sua tomada de decisão já era hora do recreio e logo surgiria o desafio a ser cumprido.  Alberto, o valentão do matutino aproximou-se do menino que quase não sabia falar e implicou com o seu silêncio: _Ei menino, o gato comeu a sua língua?

João percebeu que aquela era a oportunidade que ele estava esperando. Então, ele olhou para os seus colegas ao seu redor e olhou para o valentão. Olhou para os seus colegas e olhou para o valentão. Olhou para o valentão e olhou para os seus colegas. Olhou para o valentão e, finalmente, respondeu com a voz aguda e trêmula:

_ Não, apenas gosto de solilóquios? (e abaixou a cabeça).

O valentão que não fazia a menor ideia do significado da palavra solilóquio ficou sem graça. Tentou dizer algo mas as palavras embaralharam-se em sua boca. Os colegas acharam graça e na medida em que os risos ecoavam em seus ouvidos, ele mudava de cor. Constrangido, ele foi embora.

Os colegas aproximaram-se de João pois perceberam que aquele menino que quase não sabia falar na verdade tinha muito a dizer. João levantou a cabeça e se sentindo um herói passou a se expor mais. Respondia perguntas, expressava as suas ideias, conversava e fazia novos amigos com cada vez mais confiança.

Aos amigos daquele dia e aos outros que vieram, ele explicou o que era um solilóquio: _ Meu pai me disse que solilóquio significa conversar consigo mesmo e que não há nada de errado em gostar da minha própria companhia.

Foi assim que todos entenderam a importância do silêncio em alguns momentos e, desde então, João passou a ser conhecido como o menino que sabia falar e conviver com outras crianças, adultos e gente de todo o tipo.