Opinião: O egocentrismo de Romero Britto

Artista plástico é repreendido em sua loja, nos Estados Unidos.


Quando assisti o vídeo que circulou fortemente pela internet com imagens do artista plástico Romero Britto sendo repreendido (*) pela dona de um restaurante em Miami, nos Estados Unidos, quebrando no chão uma escultura assinada pelo artista, percebi que a imagem que Britto havia me passado em 2014, quando o entrevistei, não foi apenas uma impressão. Naquela ocasião, Romero Britto foi o convidado especial do então empresário João Dória Jr., para expor suas obras no Market Plaza, um shopping de luxo sazonal que, durante a temporada de inverno, fez sucesso em Campos do Jordão.

Assim que Britto começou a conversar comigo, percebi que estava impaciente. Tratou a entrevista como qualquer coisa. Um sim, um não, uma ironia qualquer, respondendo meus questionamentos com uma frase ou uma palavra. Após esse momento, fiz uma análise do comportamento do artista no decorrer do evento. Mais no início da noite, onde estavam conosco Adriane Galisteu e João Dória Jr., que era o anfitrião do evento, Britto mostra-se uma pessoa com um ego exagerado. A impressão é que estávamos diante de um astro hollywoodiano, intocável, com o nariz chegando na testa. E não era só ele. É de família. O irmão dele também segue o mesmo comportamento. Triste realidade, para quem teve uma infância pobre em Pernambuco.
Vencer na vida acredito que seja o objetivo de todo mundo, mas achar que o mundo precisa se curvar aos pés de quem acha que pode tudo, é demais.

Vamos lembrar que o mundo é como se fosse um carrossel, onde muitas voltas são dadas. E nessas idas e vindas, Romero Britto encontrou, talvez alguém com mais coragem do que ele. Alguém que diante da injustiça, se impôs pela justiça dos mais oprimidos, coisa que o senhor Britto esqueceu lá no passado pobre de Pernambuco. Mas a vida ensina, ou pelo menos tenta. E como dizem os textos judaicos: "O topo da inteligência é alcançar a humildade". Quem sabe o senhor Britto ainda consiga um dia ser uma pessoa humilde, de valor, e ai sim, de respeito.

(*) De acordo com a empresária Madeleyne Sánchez, proprietária do restaurante "Olé Olé And Tapelia", em Miami, o artista plástico Romero Britto esteve em seu restaurante e humilhou seus funcionários. "No dia, cheguei entre 11h ou 12h e encontrei meus funcionários chorando, porque a mesa tinha sido feita para esse homem com muita alegria. Ele já tinha vindo muitas vezes, mas aquele dia seria especial, porque ele iria com mais gente. Ele veio e ofendeu a todos: "Não me olhe na cara. Se eu não fizer isso, eles não podem vir. Desligue a música. Não quero ninguém sentado ao meu redor", e isso é muito humilhante", disse. 

Romero Britto após a entrevista monossilábica.

Romero Britto, Marcos Bulques, Adriane Galisteu e João Dória Jr. 

Momento que empresária quebra escultura de Romero Britto na frente do artista. 

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*Marcos Bulques é jornalista formado pela Universidade do Vale do Paraíba e pós-graduado pela Universidade de São Paulo. Atuou em rádio, televisão, revista e jornais impressos. Desde 2013 assina a coluna Inside do Agora Vale.