O crescimento do racismo no esporte

Os casos de racismo vem crescendo no esporte pelo Brasil e pelo mundo, após Neymar afirmar ter sofrido racismo, o debate no esporte volta à tona.


No último final de semana Neymar acusou o zagueiro espanhol Álvaro González de racismo, houve desentendimento, muita confusão e expulsão do atacante brasileiro. Imediatamente dirigentes do Paris Saint-Germain (PSG) se solidarizaram com o atacante brasileiro e os do Olympique Marseille afirmaram repudiar qualquer atitude racista. Assista o vídeo sobre o caso entre Neymar e Álvaro.

O racismo é uma questão delicada, as manifestações que vem crescendo no esporte, neste sentido torna-se importante as manifestações de repúdio das instituições contra atos racistas, seja, dos seus jogadores, dirigentes ou torcedores.

No Brasil casos recentes de atletas que denunciaram racismo foram calados, o Brasil demostrou mais uma vez ter a cultura de punir o agressor, em um dos casos, Angelo Assumpção, atleta da ginástica rítmica, foi demitido do clube Pinheiros após denunciar atos racistas constantes que vinham sofrendo de seus colegas dentro das dependências do clube. Em 2015, Angelo apareceu nitidamente constrangido em um vídeo do Arthur Nory e outro ginasta do Pinheiros, que com falas ofensivas e racistas aparecem sorrindo e apenas Angelo com o seu semblante fechado, este vídeo repercutiu negativamente, na ocasião não houve posicionamento firme do Pinheiros, as ofensas continuaram, Angelo seguiu denunciando e o clube arquivando-as. Angelo procurou os dirigentes, seus técnicos e nada se resolveu. Até o momento que o Pinheiros resolveu a questão, aplicando a lei da mordaça, demitindo Angelo no final do ano de 2019, assim, colocou um ponto final nesta questão dentro do clube. Angelo segue sem clube.

O tema racismo ganhou destaque e evidência no momento da decorrência do recente caso Neymar, com seus seguidores nas redes sociais formando uma opinião pública, esperamos que Neymar possa assumir seu posicionamento perante esta importante questão social. Trata-se de um atletas com status e estabilidade econômica, é importante que atletas assumam politicamente esta defesa e tenham um comportamento anti-racismo, lógico que não queríamos que ninguém no mundo sofresse com o racismo.

Porém, dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol apontou um crescimento nos casos do racismo em mais de 27% de 2018 a 2019, a entidade vem monitorando desde 2014 as denúncias de racismo, no seu primeiro ano registrou 20 casos denúncias e em 2019 este número saltou para 65 casos denunciados. Ao contrário do que muitos dizem, os casos de racismo cresce. E não existe ações efetivas para inibir, nem tão pouco controlar, este crescimento.

Punições brandas como a para o Grêmio no caso do goleiro Aranha em 2014, que sofreu racismo pela torcida do gaúcha na arena do Grêmio quando defendia o Santos. Após estes atos, aconteceram campanha tímidas e pouco organizadas, nada de forma sistematizada que houvesse alguma medida para a questão.

Apontamos algumas ações ocorridas neste ano que explicitaram o problema, porém com pouca efetividade, campanhas como as realizadas pelo Botafogo, Vidas Negras Importam, pegando carona nos manifesto do movimento norte-americano após a morte do George Floyd e do atacante flamenguista Everton Ribeiro que cedeu uma das suas redes sociais com aproximadamente 3 milhões de seguidores para que representantes de movimentos comunitários discutissem o racismo. São atitudes pontuais, louváveis, mas que geram pouco engajamento popular, neste sentido há pouca eficácia interventiva.

O racismo brasileiro é estrutural, por exemplo, assistimos mais pessoas negras vulneráveis e expostas ao coronavírus, com mais dificuldades no campo da saúde, com menor escolaridade e em maior número nos presídios, dados que ilustram a dimensão do problema brasileiro.  

Acreditamos que o esporte, com seu poder, pode contribuir a partir de ações organizadas, sistematizadas nas discussões sérias que ampliem o debate para outros campos sociais. Embora, sabemos que o esporte seja um microcosmo social, ele recebe as influências da sociedade e não o contrário, mas apostamos que a partir dele pode surgir caminhos para ampliamos nas questões sociais e trazermos algumas contribuições.

É nosso papel fazer com que as questões sociais que estão presentes também no esporte possam ser ampliadas no sentido de que as discussões possam ser de fato resolvidas. Embora, entendemos, que no momento não há um fio de esperança para o racismo estrutural. Temos a consciência que o racismo estrutural trata-se de um problema social, mas trazer uma resposta a partir do esporte, do posicionamento dos atletas que possuem voz, possam contribuir para luta contra o racismo, que ressaltamos, deve ser de toda a sociedade.

 

Téo Pimenta, professor universitário e diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE). Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões. Criador do Canal Téo Pimenta no Youtube. Colunista no AgoraVale desde 2018.