Barbosa o injustiçado

Barbosa, foi considerado um dos grandes goleiros da era romântica do futebol, um dos destaques da seleção brasileira na Copa de 50 e apontado como um dos principais protagonistas do maracanaço.


Moacir Barbosa do Nascimento, o Barbosa, foi o goleiro da seleção brasileira da Copa do Mundo de 1950, considerado um dos grandes da sua geração, destacava-se pela serenidade, segurança, elasticidade e bom posicionamento, por saídas rápidas do gol com uma mão só e defesas de mão trocadas. Mas, a lembrança de Barbosa que permanece, por anos, guardado na memória do torcedor brasileiro foi um chute na final do Mundial de 50 que ele não conseguiu defender.

Barbosa surgiu no futebol no Ipiranga de São Paulo, no início da década de 40, e despertando o interesse de grandes clubes da época. E em 1944 transferiu-se para o Vasco da Gama para substituir um goleiro que abandonou o futebol após ter ganho na loteria.  Em vinte anos de Vasco da Gama, Barbosa atuou por 400 partidas e tornou-se um dos jogadores que mais vestiu a camisa do clube, conquistou seis campeonatos cariocas (45, 47, 49, 50, 52 e 58), um campeonato Sul-Americano (1949) e um torneio Rio-São Paulo (1958). E na seleção brasileira conquistou uma Copa América (1949). Encerrando a carreira aos 42 anos no Campo Grande/RJ, após 27 anos jogando futebol.

O Vasco da Gama entrou para a história por ser o primeiro clube carioca a admitir negros em seu quadro, tal fato se deu em decorrência da baixa competitividade dos jogadores associados, por outro lado, há relatos que o acesso as dependências sociais do clube era proibido aos jogadores, especialmente aos negros e pobres.

Eram tempos dos jogos narrados no rádio, dos primeiros passos das crônicas esportivas, de um futebol romântico, de jogadores que se orgulhavam em vestir a camisa dos clubes, da identificação do torcedor com seus ídolos e do jogador da seleção brasileira como um defensor de uma nação. E também, o futebol brasileiro passava por um período de transição, de amador para profissional, processo este iniciado em meados da década de 30, decorrente da entrada do negro e do pobre nos clubes, demarcando questões relacionadas as classes sociais e racismo.

A Copa do Mundo de 1950 foi a primeira copa pós-guerra, por ocasião da 2ª guerra mundial não ocorreram duas edições, as 1942 e 1946. O Brasil na Copa de 50 entra como favorito e confirma este favoritismos inicial com uma primeira e segunda fase vencendo seus jogos sem grandes problemas, obtendo resultados como 4 x 0 no México, 2 x 0 na Iugoslávia (primeira fase) e goleadas expressivas na Suécia e Espanha (segunda fase), 7 x 1 e 6 x 1, respectivamente. Com o retrospecto de vitórias nas fases anteriores, a imprensa brasileira da época criou um clima de ?já ganhou? e nas vésperas do jogo final foram publicadas fotos dos jogadores brasileiros com a faixa de campeão.

Com Barbosa como um dos destaques da seleção brasileira o Brasil entra na tarde de 16 de julho para a disputa do jogo final no estádio recém inaugurado do Maracanã, com um público ultrapassando 200 mil pessoas, todos confiantes na vitória do Brasil, com Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo, Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

Podendo jogar por um empate, a seleção brasileira sai na frente do placar com um gol de Friaça aumentando a euforia dos torcedores brasileiros no Maracanã. Mesmo com o Brasil sofrendo o empate do Uruguai a festa ainda continuava nas arquibancadas do estádio, mas quando acontece a virada uruguaia com o gol de Alcides Chiggia aos 11 minutos passados do segundo tempo, o público do Maracanã se cala por completo e continuou assim até o fim da partida, decretando o ?maracanaço? e o início do inferno de Barbosa.

Após a derrota para o Uruguai apontaram-se os culpados. Barbosa por não ter defendido o chute e Bigode por ter deixado o atacante passar, foram os principais alvos, coincidentemente, eram os jogadores negros da seleção. Fato foi que somente em 2006 a seleção brasileira teve outro goleiro negro titular, Dida.

A pergunta que me faço é a seguinte: em 50 anos não surgiu nenhum goleiro negro que transmitisse confiança ao defender o gol da seleção?

Barbosa passou por diversas situações, a que se destaca com certeza, era de ter que se explicar por inúmeras oportunidades as razões de não ter conseguido evitar o segundo gol uruguaio na final, sua carreira de 27 anos foi marcada por essa bola que não defendeu. Outras foram, quando trabalhava no Maracanã, durante o processo de modernização do estádio, uma das ações foi a troca das travas de madeira, então, foi presenteado com um fragmento da trave de madeira. Fez questão de utilizá-la num churrasco. E quando foi impedido de visitar a concentração da seleção brasileira véspera do jogo eliminatório da Copa de 1994 contra o Uruguai em 1993. Fato rapidamente abafado e minimizado pela CBF.

Barbosa nasceu em Campinas/SP no dia 27 de março de 1921 e morreu em 7 de abril de 2000 na cidade de Praia Grande/SP aos 79 anos. E dizia ser o único brasileiro a cumprir uma pena superior a 30 anos, o tempo máximo de punição imposta a qualquer criminoso no Brasil.

Para muitos, Barbosa, foi o jogador mais injustiçado por uma derrota em toda história da seleção brasileira em copas.