Pega na mentira


MentiraMentira Dizem que ela tem a perna curta, mas a verdade é que a mentira é uma realidade e tem até um nome charmoso, inventado pelos estudiosos: Síndrome de Pinóquio.

Uma psicóloga afirma que mentir é algo natural, mas nunca pode ser considerado um ato positivo. Para ela, a mentira sempre vem com uma intenção, seja uma brincadeira, para chamar a atenção, ou para tirar o mentiroso do enrosco. O ato de mentir vem desde a criancice e parece que nasceu com o homem. Deve ser por isso que Aristóteles falou que o maior castigo para o mentiroso é não ser acreditado nem quando fala a verdade.

Se bem que a história está repleta de grandes mentirosos, como o famoso chefe da propaganda nazista, Goebbels, que acreditava que uma mentira repetida mil vezes acaba virando uma verdade.

No entanto, em muitos aspectos é tênue a fronteira entre verdade e mentira. Quem navega pela Internet, por exemplo, encontra cada mentira vendida como verdade que faria o nariz de Pinóquio dar voltas no quarteirão.

Por isso a gente precisa confiar desconfiando de certas coisas, como ensinava meu velho pai.

É o caso de uma tal barata, que apareceu há alguns anos na cidade de Sorocaba, e que fez furor entre os internautas à época. O tal bicho teria sessenta centímetros, pesando cinco quilos. Se a coitada da dona baratinha, do tamanho de um tostão, já assusta tanto, imagine uma baratona do tamanho de um tatu bem criado.

Pode ser que seja verdade, pode ser que esse seja um daqueles causos contados pelo saudoso jornalista taubateano, Oswaldo Barbosa Guisard, patrono de minha cadeira na Academia Taubateana de Letras.

Contava esse Guisard da velha cepa de um mentiroso que inventou ter visto no mar um peixe de uns dois metros de comprimento. E saiu todo feliz com sua mentira. Caminhava ele pela praia quando passou por uma rodinha, onde as pessoas diziam ter visto um peixe de três metros. Mais à frente e o tal peixe já era apresentado com sete, oito metros.

O mentiroso parou num quiosque para tomar uma água de copo. Refestelado numa confortável cadeira, viu ele um grande sururu e, curioso como quê, foi correndo ver o que se sucedia. Um cidadão, todo ofegante, lhe garantiu que tinha sido avistado no mar um peixão de quinze metros e que o monstro estava a caminho da ponta da praia. As pessoas corriam em desabalada carreira para ver aquele fenômeno marinho. O mentiroso não se fez de rogado e saiu correndo atrás da própria mentira, para ver se conseguia avistar o peixe de dezesseis metros, que a esta altura já tinha crescido mais um tiquinho...

E como quem conta um conto, aumenta um ponto, lembro-me de um pedreiro que morava perto de minha casa, quando eu era criança. Ele fazia aquele serviço de ficar no chão, jogando tijolos ou telhas para o ajudante, que se encontrava lá em cima, no andaime. Esse pedreiro foi embora para São Paulo e voltou anos depois, todo saradão. Forte como um Hércules daqueles que a gente via nas antigas matinês do Cine Palas.

Um dia ele foi repetir o velho trabalho de lançar tijolos para o parceiro que ficava lá em cima no andaime. Só que ele estava tão forte e jogou o tijolo com tamanha força, que ele passou pelo ajudante como um foguete, voou rasgando o céu e foi matar o pobre de um urubu que voava a uns duzentos metros de altura.
Acredite, se quiser.

Falando nisso, 1º de abril é o Dia da Mentira. Esse dia, como só acontece em Taubaté, tem até o seu patrono: Dito Martelo. Mas nós tivemos por aqui outros casos de 1º de abril famosos. Quando Martha Rocha ganhou o concurso de Miss Brasil, o jornalista Levy Bretherick, sempre brincalhão, escreveu no extinto jornal “A Tribuna”, do qual era diretor, que ela estaria visitando nossa cidade. E detalhou, dizendo que Miss Brasil desceria de avião no aeroporto então existente nas imediações da fábrica da Ford. Metade da população taubateana foi pra lá, para recepcionar nossa rainha da beleza.

Era 1º de abril, um tipo de brincadeira comum à época entre nossos jornais.

Se bem que tem um caso histórico, envolvendo a conceituada revista “Veja”, que até hoje é motivo de estudos nos cursos de Jornalismo. Uma revista científica do exterior publicou no Dia da Mentira, a título de brincadeira, uma matéria afirmando que um grupo de cientistas britânicos conseguira misturar os gens de um boi com os do tomate, nascendo daí um ser híbrido, chamado de Boimate. Sua carne, com leve sabor de tomate, seria a ideal para lanches, com hambúrgueres.

O coitado do editor da “Veja” acreditou e publicou a reportagem, a sério, com um detalhado esquema ilustrando a fantástica mistura de gens.

Esse furo, no mal sentido, até hoje está berrando como uma vaca louca nos corredores da revista.

Para encerrar, uma mentirinha eclesiástica.

Certa feita, ao final da missa, um padre anunciou que na missa seguinte falaria sobre o pecado da mentira. E acrescentou: “Em preparação ao assunto, peço que todos leiam o capítulo 17 do evangelho de Marcos”.

No início da missa seguinte o padre perguntou: “Aqueles que leram Marcos 17 levantem a mão”. Todos levantaram as mãos.

O padre então arrematou: “Agora estamos prontos para falar sobre a mentira, pois o evangelho de Marcos possui apenas 16 capítulos...”