Andarilhos Há muitos anos havia em Taubaté uma pessoa que a sociedade classifica de “louco”. Naquela época, nós, os jovens de então, tínhamos como um dos pontos de encontro o Bar do Alemão, que servia chope com a melhor maionese do mundo, acompanhada de um pão torradinho, salsicha e mostarda escura.
O louco de Taubaté era um ser misterioso, inteligente e culto. Ninguém nunca soube o porquê deve viver como um mendigo. Falava várias línguas, inclusive latim, dominava matemática, física, biologia, história e outras ciências. E gostava de mostrar seus conhecimentos em troca de um chopinho.
Ele se afeiçoou comigo e aprendi muito com ele. Louco ele? Às vezes pensava que loucos éramos nós, que não tínhamos a liberdade que ele tinha, voando feito passarinho pelos atalhos da vida.
Afinal, há uma linha tênue entre a sanidade e a loucura. O maluco beleza Raul Seixas dizia que a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um maluco normal. Já Oscar Wilde, com toda sabedoria, garantia que os loucos às vezes se curam, os imbecis, nunca.
Jamais soube a identidade do louco de Taubaté, de onde veio aquele senhor barbudo, saco de estopa às costas onde levava seus badulaques. Mas fecho os olhos e vejo-o saindo do Bar do Alemão, indo em direção à Catedral de São Francisco, talvez para puxar um cochicho em um dos seus bancos e quem sabe filar um cafezinho do padre Evaristo.
E fico imaginando ele rindo de nós, na certeza de que loucos são os outros...
Camões Ribeiro do Couto Filho é jornalista, radialista, escritor e pedagogo, pós-graduado em Jornalismo e Assessoria de Imprensa. E-mail do autor: camoesfilho@bol.com.br