Coisas de Padre e Futebol...


Padre e BolaPadre e Bola Nós, brasileiros, adoramos futebol. A perda da Copa do Mundo aqui no Brasil e a derrota acachapante para a Alemanha jamais sairão do imaginário popular. Eu aproveito o tema futebol e também entro no clima, já que o cavalo está passando encilhado. E hoje conto duas historinhas reunindo padres e futebol.

Relatam os mais antigos de Taubaté que lá nos anos quarenta do século passado havia em nossa cidade um padre fanático por futebol. Era o padre Rosa, uma figura querida por todos e que era assim um misto de folclore, fé e tradição.

As procissões à época eram realizadas aos domingos à tarde, coincidindo com a hora do bom e velho futebol.

A procissão entrava pela Rua Duque de Caxias e um amigo do padre ficava estrategicamente colocado, ali na altura do antigo Café Nosso Ponto.

Padre Rosa, todo solene, coberto pelo pálio, com os dedos polegar e indicador esticados, fazia o conhecido gesto que significa uma dúvida ou questionamento. O seu amigo, no meio dos fiéis, com gestos e sussurros, respondia: “Dois a um pra nós. Amém!”

E lá ia padre Rosa, todo feliz, entoando seus cânticos religiosos.

Esta outra eu conto o milagre, mas não revelo o santo. Ou o padre.

Anos oitenta. O Taubaté ia jogar em Santo André com o time local, numa quarta-feira à tarde. Eu e um grupo de amigos estávamos tomando café na praça D. Epaminondas, quando alguém teve a ideia de irmos assistir aquele jogo. Topamos e rumamos para Santo André. Chegamos ao estádio por volta das duas da tarde.

A gente não tinha parado para almoçar e estávamos mortos de fome. O jeito foi comer um “churrasquinho de gato” ali mesmo, em frente do estádio. O cara do carrinho de lanche disse que tinha uma “purinha”, mas que tinha de servir na surdina, para driblar a fiscalização. Dois colegas resolveram provar da “branquinha”. Tudo muito normal, não fosse um detalhe: um deles era um conhecido padre de Taubaté.

A dupla se entusiasmou – a “branquinha” era das boas – e pediram mais uma e mais um espetinho, enquanto jogavam conversa fora. Nosso padre de plantão estava com a camiseta do Taubaté, calça jeans, tênis, bonezinho.

Comentei na rodinha em que estava que os torcedores que por ali passavam jamais acreditariam que aquela pessoa, vestida como um torcedor típico, tomando uns mé na porta do campo do Santo André era um padre.

E quem não era da nossa turma e ouviu a conversa, não acreditou mesmo. Precisou o nosso padre mostrar seus documentos e dar as bênçãos para as duas equipes, que a esta altura já adentravam o gramado, como gostam de dizer os nossos cronistas esportivos.
 

* Camões Ribeiro do Couto Filho é  jornalista, radialista escritor e pedagogo, é membro titular da Academia Taubateana de Letras (Cadeira nº 7, Patrono Jornalista Oswaldo Barbosa Guisard)