A vida é assim...


Carrilhão antigoCarrilhão antigo De repente... a gente começa a descobrir coisas, coisas que nos alegram e outras que nos entristecem. A vida é dura, mas não dura a vida mais do que um átimo. De repente...
 
· Ainda criança de colo percebemos que o mundo não gira ao nosso redor.
· Temos que chorar, e muito, para que alguém venha nos dar papinha na boca.
· Logo ficamos sabendo que chorar não adianta mais.
· Mais tarde, o pior: ficaremos sabendo que não existe almoço de graça.
· Um dia, um Natal qualquer, acaba o encanto: ficamos sabendo que Papai Noel não existe. Não existe coelho da Páscoa. Não existem cuca, saci-pererê, mula-sem-cabeça e outras figuras que assombraram nossa infância.
· Descobrimos, um dia pela manhã, assim sem querer, que além de nossa casa existem outras coisas, com nomes engraçados, como escola, creche, pré-zinho.
· Um dia, nossa mãe vai nos deixar numa casa desssse tamanho e vamos ser cuidados por umas moças diferentes e teremos que conviver com uns moleques peraltas, que vão mexer em nossa comida e bagunçar nosso brinquedo. Primeira lição: essas moças odeiam ser chamadas de tias.
· Chegará um momento em que um carro grande, quase do tamanho de um ônibus, virá todo dia cedinho nos pegar e nos levará para aquela casona.
· Teremos de comer umas coisas diferentes e não vamos contar nem com um copo de guaraná para acompanhar, só uns sucos esquisitos, que as tias falam que é natural e muito saudável.
· Um dia vamos sentir que nosso corpo está crescendo e vamos ficar meio esquisitos, parecendo um ET, com braços e pernas enormes.
· Ficaremos nervosinhos com qualquer coisa e sairemos dando trombada em tudo que é quina de mesa.
· Vamos querer escolher a nossa própria roupa.
· As meninas, vaidosas, cuidarão por horas de seus cabelos e vão se achar um lixo.
· Os garotos só vão querer tênis de marca e gastarão quilos de gel em seus cabelos.
· Nos fins de semana eles e elas vão querer passear no shopping – sem os pais por perto, pelo amor de Deus!
· Nascerão os primeiros namoricos.
· As meninas descobrirão que os meninos são meio desleixados, não sacam as coisas de primeira, não lembram de datas e aniversários.
· Os meninos ficarão sabendo que mulher é uma coisa complicada.
· E um jamais vai querer viver sem o outro.
· Nas festinhas de aniversário, o primeiro pedaço de bolo já não será da mãe, mas da namorada ou namorado.
· Na formatura da oitava série eles irão dançar até às tantas.
· Até às tantas, eles saberão, é até o momento em que o pai se levanta da mesa e diz meio enfastiado: “Vamos embora!”
· O ensino médio vem cheio de novidades, novos professores, novos amigos e muitas dúvidas.
· A nossa mesada é gasta em cinema, refrigerante e todos aqueles “mc´s” da vida, que a gente adora.
· A gente começa a ser incentivado a pensar no vestibular, que profissão queremos ter. E assim, sem mais nem menos, ficamos sabendo que mais alguns anos e teremos que encarar um trampo.
· Aquele namorico começa a ficar sério e os namorados começam a frequentar as casas de seus respectivos pais.
· A namorada ajuda a lavar a louça do almoço, coisa que nunca sequer fez em sua própria casa.
· O namorado já abre a geladeira do sogrão para pegar uma coca.
· Na sexta à noite, a família vai comer uma pizza. Os namoradinhos vão juntos.
· Está chegando a formatura e começa aquela correria de alugar roupa, corta aqui, aperta ali, arruma cabelo.
· Na formatura, os namorados dançarão a valsa de rosto colado - igualzinho seus pais.
· E os pais, vendo filho e filha felizes, sorridentes, rodopiando pelo salão, de repente ficarão tristes, taciturnos, imaginando que logo eles estarão prestando vestibular e seguirão suas vidas, longe de casa.
· E o velho pai terminará a noite assim, num misto de alegria e tristeza.
· E assim a vida continua, trazendo e levando dias bons e outros ruins, momentos inesquecíveis e outros que jamais queremos nos lembrar...
·  Até que de repente estaremos na virada do ano, vamos olhar para trás e repensar nossas vidas. Vamos nos alegrar com as coisas boas que fizemos ou nos aconteceram. Mas nos entristeceremos ao perceber quanta coisa que gostaríamos de ter feito, mas que o tempo implacável foi deixando para trás...
· Feliz Ano Novo para todos!
 

Camões Ribeiro do Couto Filho
é jornalista, radialista escritor e pedagogo, autor do livro “O Canto do Vento” (Netbooks Editora, 11ª edição) e membro titular da Academia Taubateana de Letras.