O dia em que Elis Regina morreu


Tem certas coisas marcantes de nossas vidas que jamais nos esquecemos. Um desses fatos marcantes, que jamais me esquecerei, foi da morte de Elis Regina, no dia 19 de janeiro de 1982. Portanto, há exatamente 30 anos!

Eu trabalhava no jornal ValeParaibano e tinha publicado uma semana antes uma reportagem mostrando o distrito de Moreira César, de Pindamonhangaba. A curiosidade da matéria é que levei para me acompanhar o então subprefeito de Quiririm, distrito de Taubaté, o saudoso Waldemar Bonelli. Fomos recebidos pelo então subprefeito de Moreira César, o Zé Maria, que nos mostrou todo o distrito, contou sua história, detalhes curiosos do local e de seus moradores.

Na semana seguinte, inverti as coisas. Fui fazer uma reportagem no distrito de Quiririm e levei junto o Zé Maria, de Moreira César. Foi uma forma sugestiva de integração de dois dos principais distritos do Vale do Paraíba.

Era o dia 19 de janeiro de 1982. Depois de percorrermos a manhã toda Quiririm, paramos no bar do Lacerda, uma figura folclórica e muito querida do local, para um dedo de prosa e tomarmos uma geladinha. A seguir iríamos almoçar na casa do Waldemar Bonelli.

Estávamos lá no balcão, deliciando-nos com uma cervejinha e as histórias do Lacerda, quando uma de suas filhas chegou e disso de supetão: ?Está dando na televisão que a Elis Regina morreu?.

Aquilo foi um choque para todos nós. Elis, 37 anos, estava no seu auge. Era intérprete de todos os amores, sonhos e esperanças de nossa geração.

Diante de um aparelho de TV, na casa do Lacerda, contígua ao bar, acompanhamos o noticiário da morte de Elis Regina no programa ?Hoje? da TV Globo. Ninguém falava nada. Havia no ar um misto de surpresa e estupefação. Naquele dia que senti como a morte, a dor de uma pessoa querida ? mesmo tão distante ? nos provoca um vazio imenso, impossível de ser preenchido.

A reportagem ? como o show ? não pode parar. Deixei a tristeza de lado, pois tinha toda uma página em aberto no jornal para preencher com a matéria sobre o distrito de Quiririm.

Naquela noite o céu do Brasil ganhou uma estrela mais brilhante. Elis era agora uma estrela, como ela mesma dissera em seu último e inesquecível show, ?Falso Brilhante?, no Teatro Bandeirantes, de São Paulo, que eu tive a felicidade de assistir, chorando feito criança...


 


Camões Filho, jornalista, escritor e pedagogo, é membro titular da Academia Taubateana de Letras.


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