"E aí, vai largar ou não vai?"


“Deve-se ter em mente que não há nada mais difícil de executar, nem perigoso de conduzir, do que iniciar uma nova ordem de coisas” (Maquiavel).

O ser humano desde a era mais primitiva teve de se adaptar as circunstâncias mais difíceis para garantir sua sobrevivência, lutou contra a natureza, nas mais diversas situações, podemos até imaginar como não era nada fácil para nossos primeiros pais garantir a própria existência.

Sobreviver era um exercício diário e penoso, acredito ter sido o momento, que mais se viveu o a máxima de que “a cada dia bastam às próprias preocupações” (Mateus 6,34). Conforto era sinônimo de sobrevivência, não havia limite de tempo. Não se sabia quanto tempo teria pela frente, na verdade não ainda havia conceito de tempo. Deus criou a vida, acreditamos, e o homem, o tempo de vida, dividindo a nossa existência de acordo com um cronograma, que já começa no berçário, depois passa pelo maternal, fundamental, ensino médio, universitário e não para mais, nunca tivemos tantas atividades para tão pouco tempo, e principalmente pressões para executar tantas atividades. Exercemos diversos papéis, com uma infinidade de atribuições e tarefas.

Mas voltando ao amigo pré-histórico, imaginemos que depois de uma caça bem planejada, executada, dissecavam o alimento e fartavam-se com muito prazer, da melhor maneira possível, porque sabiam que era aquele o momento. No dia seguinte, teriam de repetir o feito, se organizar, se expor, e sair pra caça novamente, com perigos, dificuldades, na incrível luta pela existência.

Entrei neste tema, porque acredito que está na memória primitiva humana, o medo de perder o “conforto conquistado” (veja que coloco entre aspas), ao se deparar com as incertezas e inseguranças do cotidiano, o individuo moderno se fecha de tal maneira para se defender, e proteger seu espaço, que o mais valente dos pré-históricos não seria capaz de enfrentá-lo. Daí pode entender porque as pessoas são, na grande maioria, tão adversas ás mudanças, sentem-se incomodadas pelo risco de saírem de suas zonas de “conforto”.

O ser humano pré-histórico percebeu rapidamente que sua maior inimiga, a natureza, deveria ser sua grande aliada, e somente sobreviveu e não se extinguiu, porque foi capaz de entender que não poderia enfrenta-la, mas se adaptar. Entendeu que sua existência era parte do processo da natureza.

As mudanças são como as sementes na terra, aos poucos vão se formando, moldando, crescendo e tomando o seu espaço, é algo natural e necessário. Quando percebemos já está formado e encorpado. Você pode arrancar as sementes da terra, mas não pode tirar a capacidade da terra de fazê-las brotar.

Hoje desenvolvemos nossa luta diária, nos negócios, nas empresas, nosso cotidiano não é menos estressante ou fácil, embora com muito conforto e tecnologia.

Trabalho com consultoria há vários anos, e tenho a oportunidade de vivenciar características de diversos segmentos de empresas e profissionais, e recorro cada dia ao ancestral primitivo, para aprender com ele, principalmente, que não dá pra ficar fechado e somente defendendo o seu espaço, seu “conforto”. É preciso sair, conquistar, adaptar-se a cada dia. O medo do novo é uma realidade, o receio de passar novamente por outro período de adaptação, de novas conquistas, de luta e suor, tem de ser suplantado, pois as mudanças são necessárias e naturais. Somos parte do processo natural das mudanças.

Como é difícil “largar o osso”! Frase muito comum, e que denota uma realidade de comportamento, e isso não é só nas empresas, mas nos clubes, nas igrejas, associações, até na família. Onde estiver o ser humano, em situação de conforto, qualquer mudança é sinal de perigo, luzes vermelhas acesas. Esta atitude impede o crescimento da pessoa e também do processo em que está inserida.

Não se preocupe todos somos assim, uns mais, outros bem mais! De qualquer forma, reflita, e não fique atrás. Acompanhe a rota das mudanças, o assunto mais falado atualmente em várias empresas é a gestão pelo modelo da meritocracia, que inclusive tanto cobramos. O resultado transformado em valorização, em remuneração.

Nossa! Que faremos com os que não querem largar o “osso”? Não se preocupe, não precisa brigar! As mudanças são processos naturais, vão às pessoas, ficam os “ossos”...

Iniciamos esta semana a Quaresma (quarenta dias), que para os cristãos é um tempo de preparação para a Páscoa (Passagem), onde se reflete a importância de sair do seu conforto pessoal, de olhar para fora de si, de praticar a caridade, e principalmente acolher o próximo.

Pense nisso!

Boa semana!

Alexandre Faria
Consultor em Gestão de Negócios