Domingo é dia de missa


TaubatéTaubaté Quando eu era garotão – lá no século passado – domingo era dia de missa, macarronada e Sílvio Santos. E alguns anos antes, com meus 13, 14 anos, tinha mercurinho no Cine Palas, às 10 da manhã, onde a gente se encantava com os filmes e desenhos de Walt Disney. À tarde eu e minha patota íamos à matinê do Cine Boa Vista, assistir filmes de caubói e aqueles seriados, que sempre paravam com o mocinho em perigo e a gente ficava a semana toda imaginando como ele agora iria sair dessa.
 
Depois dos 15, a gente passava a ir à sessão das sete do Palas, onde tudo acontecia, durante a exibição dos filmes e depois, na paquera, que ia da rua Carneiro de Souza até a Praça D.
Epaminondas. Até parece que Giuseppe Tornatore aqui viveu para fazer um dos melhores filmes do cinema italiano, “Cinema Paradiso”.
 
Depois da sessão das sete e das paqueras, tinha brincadeira dançante no velho barracão da Associação, na Rua Visconde do Rio Branco.
 
Mas a gente também não deixava de ir à missa. Era o ritual do domingo. Havia até um ditado que dizia que “domingo é dia de missa e de preguiça”.  
 
Agora, quando não há mais Palas, Boa Vista, o salão da Associação da Visconde do Rio Branco, acabou a paquera no centro, que domingo à noite fica às moscas, numa escuridão de dar medo, a idade nos arremete a outros prazeres. Como ler aqueles jornalões de domingo, com mais de cem páginas. E foi assim que li sobre um determinado frequentador de Igreja que escreveu para o editor de um jornal, reclamando que não faz sentido ir à Igreja todos os domingos. "Eu tenho ido à Igreja por 30 anos", ele escreveu, "e durante este tempo eu ouvi uns 3.000 sermões. Mas eu não consigo, por minha vida, lembrar nenhum deles. Assim, eu penso que estou perdendo meu tempo e os sacerdotes estão desperdiçando o tempo deles pregando sermões”.

Esta inusitada opinião iniciou uma grande controvérsia na coluna de cartas,  para alegria do editor do jornal. Polêmica sempre dá ibope ou vende jornais. E a coisa correu solta por semanas, com o jornal recebendo e publicando cartas sobre esse assunto. Até que um leitor escreveu uma carta que sepultou a polêmica de vez. Disse ele: "Eu estou casado já há 30 anos.

Durante este tempo minha esposa deve ter cozinhado umas 32.000 refeições. Mas, por minha vida, eu não consigo me lembrar do cardápio de nenhuma destas 32.000 refeições. Mas de uma coisa eu sei. Todas elas me nutriram e me deram a força que eu precisava para fazer o meu trabalho. Se minha esposa não tivesse me dado estas refeições, eu estaria hoje fisicamente morto. Da mesma maneira, se eu não tivesse ido à Igreja para alimentar minha fome espiritual, eu estaria hoje morto espiritualmente."

E você, foi à missa domingo?
 
* Camoes Ribeiro do Couto Filho é radialista,  jornalista, pedagogo e escritor, membro titular da Academia Taubateana de Letras, onde ocupa a Cadeira de nº 7.