O escultor, o homem e o lobo


Quando eu era pequeno, tudo parecia mais fácil! E não é que era mesmo!

Cresci na roça, cercado dos meus avós, me sentia o “Pedrinho” no Sitio do Pica Pau Amarelo, inclusive com medo da “Cuca”, aquela música de ninar, lembra? “Dorme nenê que a cuca vem pegar...” Rsrs (risos!!!).
Acredito que até fosse por isso, que andava pra cima e pra baixo com um pequeno quadro de São José, e acendia velas diante dele pra rezar toda noite, tanto que certa vez, devia ter cinco anos coloquei fogo na cortina por acidente e por muito pouco não incendiei toda a casa, conta minha Mãe. Lembro-me de fagulhas de imagens desse fato, de fogo na  verdade... Rsrs (risos)!

Ao passar do tempo, a infância foi se distanciando, a maturidade chegando, e com ela a clareza de tantas dúvidas e incertezas e mais medo ainda. Muito me frustra  particularmente, que iremos desta vida para melhor, sem muito saber especialmente, sobre cada um de nós...Que interessante, fomos formados a partir da continência, o “não” foi o “martelo e o cinzel” na mão de nossos cuidadores, que ao longo dos primeiros anos de nossas vidas, nos esculpiram e moldaram.

É certo que os pais não nascem escultores gregos, há muita dificuldade no ofício de esculpir a base da humanidade nos filhos, o peso da mão no “martelo a bater no cinzel”, nem sempre é na “pulsão” certa! Foi assim para nossos pais, é assim para nós, e será para todos. Fomos moldados, na força da emoção, penso que isso responde algumas perguntas de quantas vezes, nos falta o equilíbrio da razão, nos momentos cruciais de nossas vidas.
O processo de “criação”, por mais amoroso e cuidadoso que possa parecer não ocorre isento de dores, causadas pelas marcas e cada fase desta arquitetura esta inscrita em cada um, ficou pra sempre, e como sabemos o “pra sempre nunca acaba”.

Podemos até parecer o resultado de uma arquitetura grega (estatua de Nice – Deusa da Vitória), por exemplo, perfeita no alinhamento, nas curvas, nos traços, mas na essência, não é bem assim.
Vamos recordar o “Conto do Velho Índio” para seu neto, dois lobos combatendo dentro de cada um. O lobo bom, que simbolizava as virtudes, boas qualidades (alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão, fé etc.) e o lobo mau, com os desvirtuamentos e defeitos (raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso etc.). No final o neto pergunta: qual o lobo que saí vencedor? O avô responde que: “será o lobo mais bem alimentado”.

É isso, penso eu, não posso mudar a forma como fui esculpido ou lapidado, muito menos a intensidade como se deram as “cinzeladas”, na maioria das vezes com a melhor das intenções, mas por outro lado, tentar não alimentar tanto o lobo feroz, habitante “de meu eu”, enfraquecê-lo, torná-lo sem forças e procurar criar dentro de mim um o habitat do lobo bom, e jamais baixar de guarda. Os lobos caminharão juntos, por toda a vida. Ou você dúvida?

Quando crianças, não tinha capacidade suficiente de distinguir os lobos e parece-me que nossos escultores também não! Como as fagulhas da lembrança, imagino que é por isso que acabamos por alimentar o lobo errado, literalmente, muitas vezes ao longo da vida, fazendo muito estrado, para “meu eu” e para os outros.

É possível de corrigir? É preciso acreditar que sim! Embora os lobos tenham crescido, com o passar do tempo, o “martelo e o cinzel” estão hoje em nossas mãos! Ou não? Mãos as obras, há muito que se fazer, principalmente, não alimentar os lobos maus, “de meu eu” e também o dos “outros”!

Quando era pequeno, tudo parecia fácil... Rsrsrs (risos!) Se preferir: Kkkk!

Boa semana!

Alexandre Faria

Consultor em Gestão de Negócios