"A Sacisada na Pescaria" - Mês do Folclore.




“Lá onde o Bento Rosa morava, no meio do matão do Gramado, o Saci começou a perturbar dando aquele assobio ardido perto da casa. Dia sim, dia não, ele passava lá e assobiava só pra cachorrada avançar nele.
E corria pra lá, corria pra cá, e a cachorrada emendava atrás dele fazendo aquela barulhada fora de hora da noite.

Quando foi outro dia, o Saci assobiou e o cachorro correu atrás dele pra dar um pega no Saci. Mas ele meteu o couro no bicho e foi embora. E foi assim até que o Bento Rosa fez uma cruz de concreto e colocou na frente da casa. Daí acabou a bagunça com a sacisada.

Outra vez, lá no terreno do Belarmino, quando o Bento estava acabando de fazer uma casa, o Belarmino disse:

— Bento! Quarta-feira nós terminamos a casa, falta só dar mais uma mão de tinta no armário embutido que você fez, daí vamos posar28 lá onde era o Ventura pra gente pescar um pouco!

Na segunda-feira da derradeira semana, o Bento arrumou três redes e um punhado de anzol de pescar bagre e deixou tudo no jeito.

Na quarta-feira, o Belarmino pediu pra mulher fazer um virado pra eles comerem lá na beira do rio.

A mulher então preparou um caldeirão com virado, carne de porco e arroz para cada um, e lá foram eles para a pescaria. Foram de jipe até o lugar, que não era tão perto.

Chegando lá, se ajeitaram embaixo do taquaral, fizeram uma fogueira para esquentar o virado e começaram a pescar.

Passadas algumas horas sem nenhum peixe puxar o anzol, resolveram deixar as redes armadas e descansar em um ranchinho que o Bernabé tinha feito pra guardar o amendoim na bainha que tinha sido colhido com o pé e tudo.

Jantaram e ficaram no meio dos amendoins. Puxaram uma palhinha quando, de repente, ouviram um barulho de pedradas caindo no telhado do rancho e um assobio ardido no ar.

 




— Bento, que assobio é esse? Que é isso? – perguntou o Belarmino.
— Isso é Saci! – respondeu o Bento Rosa.
— E como é que é isso, Bento?
— Dizem que é um negrinho de uma perna só! Mas eu nunca vi! Só escuto o assobio...

Quando o Bento terminou de explicar, choveu mais pedrada pra tudo que era lado e de repente um pau caiu no fogo que eles tinham feito do lado de fora do rancho. A paulada foi tão forte que ergueu brasa pra mais de metro do chão. 

Cravejou de pedras. Pedras no rancho, pedras nas costas, pedras que quebraram até as bainhas de amendoim!
— Temos que sair daqui! Se arranquemo, Belarmino!

Ficaram os dois na beira do rio, e o negócio ficou lá assobiando o resto da noite, até a madrugada, quando parou. O Bento disse que naquele dia deveria ter mais de um Saci jogando pedras. E que aquele taquaral devia ser um criadouro de Sacis”.


Mauricio Pereira
Escritor, Ilustrador, Contador de Causos de Assombração da Região do Vale do Paraíba,possuí publicações fora do país, pra conhecer mais clique no Blog:
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